7 de jun. de 2011

Iggy Pop - Post á pedido do Nivaldo #

Raul Seixas disse que o Diabo é o pai do rock. Pois se o punk, uma das expressões mais energéticas do rock’n’roll, tem um claro genitor é o americano James Newell Osterberg, conhecido como Iggy Pop. Nascido na cidade de Detroit em 1947, Iggy foi vocalista da lendária banda The Stooges, uma das mais importantes e selvagens da história do pop.

Rolling Stones, Velvet Underground, The Who, The Kinks, The Doors, MC-5. Inúmeros grupos lançaram os fundamentos da musica punk, mas poucos alcançaram uma síntese e se tornaram tão referenciais para o gênero quanto os Stooges.

O grupo começou sua carreira em 1966, formado por Iggy (vocais), os irmãos Ron (guitarra) e Scott Asheton (bateria) e por Dave Alexander (baixo). O quarteto de Detroit seguia os passos dos Rolling Stones, dando uma roupagem mais crua ao rhythm’n’blues, só que com mais fúria e peso que a banda de Mick Jagger e Keith Richards. A música dos Stooges era básica e agressiva, sem firulas, enquanto as letras de Iggy narravam peripécias de sexo, amor, drogas e outras viagens.
Nos palcos, a ferocidade não era menor, com Iggy pulando, cantando que nem um louco, puxando briga com pessoas da platéia e fazendo outras loucuras. Foi nos tempos dos Stooges que Pop talvez tenha pego mais pesado com as drogas, principalmente com a heroína. Como parte de sua performance, às vezes espalhava cacos de vidros pelo palco e se atirava por cima deles, terminando as apresentações com o corpo banhado de sangue.




















Iggy tinha o habito de se jogar em cacos de vidro.


O cotidiano dos rapazes era bem difícil, dada a pobreza deles. Iggy, por exemplo, chegou a morar meses em um banheiro. Uma existência assim só poderia resultar em um som agressivo e nada convencional.

Em 1969, os Stooges lançaram seu primeiro álbum, produzido por John Cale, ex-baixista do Velvet Underground. O disco já abria em alto estilo com a canção 1969, com destaque para o canto debochado de Iggy, para uma levada de bateria com suingue e para um solo frenético de pedal wah wah da guitarra de Ron. Logo em seguida, vinha I Wanna Be Your Dog, autêntico exemplar de canção punk, com uma batida quebrada e novamente uma guitarra violenta, com Iggy cantando “eu quero ser o seu cachorro”. Nada mais punk e o disco ainda trazia outras pedradas como No FunNot Right e Real Cool Time.




















Iggy Pop em carreira solo, na década de 80


O segundo álbum dos Stooges, Fun House, lançado em 1970, deu continuidade à trajetória de "punkadaria" do primeiro disco e ainda foi incorporado à formação da banda um saxofonista, Steven Mackaye. Loose1970 e T.V. Eye eram as mais estridentes em um trabalho que reunia também Dirt, exemplar de blues a la Hendrix, e um flerte com o free jazz em L.A. Blues.

Diga-se de passagem, o jazz era uma das influências do grupo, que venerava o saxofonista John Coltrane. Entre suas diversas influências, o quarteto citava nomes como os Stones, Hendrix, grandes artistas de blues e jazz e até mesmo o grupo virtual de quadrinhos e desenho animado The Archies. Achei engraçada uma vez entrevista de Iggy para a extinta revista Bizz na qual mencionava essas referências e dizia que tinha “vontade de vomitar” quando escutava Califórnia Dreamin’, a pegajosa e melosa canção dos ripongas insuportáveis dos Mamas and Papas. Realmente, essa música era uma verdadeira eca.
Após Fun House, por conta dos problemas resultantes do vício de Iggy Pop pela heroína, a banda começou a se desintegrar, ocorrendo a debandada de Dave Alexander e Steven MacKaye. A posição de baixista chegou a ser ocupada por Zeke Zettner e por James Recca. Ron Asheton acabou indo para o baixo,  deixando a guitarra para um novo membro, James Willianson.

A banda permaneceu no limbo por dois anos, até que com o apoio de David Bowie retomou e gravou o disco Raw Power, lançado em 1973. Bowie assinou a mixagem do álbum, menos punk, mais voltado para o glitter e para o heavy metal, porém não menos energético.
 Search and Destroy, uma canção que caprichava na velocidade, abria os trabalhos, com Gimme Danger, uma balada glam, dando seqüência. Your Pretty Face is Going to HellPenetrationRaw Power eram outras peças vulcânicas do disco.

Após Raw Power, os Stooges continuaram pouco tempo e encerraram as atividades em 1974. Além dos três álbuns oficiais, piratas com faixas ao vivo, versões alternativas e raridades trazem um pouco mais de informação aos fãs da banda.

Pouco mais de um ano após o fim dos Stooges, explodiu no mundo inteiro, principalmente na Inglaterra e nos Estados Unidos, a revolução punk. Bandas como os Sex Pistols, Ramones, The Clash, Siouxsie and the Banshees, Buzzcocks, The Damned, The Jam, Dead Boys e tantas outras promoveram um banho de vitalidade no rock e na sociedade profundamente inspirados pelo som, pela performance e pelas letras de Iggy Pop e de seus Stooges.

Não foi só punk que recebeu influências de Iggy Pop e dos Stooges. A New Wave, o gótico, o metal, o industrial, o indie rock, o grunge, o noise e diversos outros estilos não seriam os mesmos sem os Stooges. Sem dúvida a marca de Iggy paira sobre eles.

Em 1975, novamente com apoio de David Bowie, Iggy partiu para sua importantíssima carreira solo. Bowie produziu e tocou nos álbuns The Idiot, de 1976, e Lust for Life, de 1977. Embora mais pop, a carreira solo de Iggy rendeu momentos magistrais, como esses dois álbuns, nos quais permaneceu como letrista de qualidade, criador de rocks cheios de energia e absolutamente performático.

A surpresa veio em 2003. Quando gravou Skull Ring, Iggy convidou os irmãos Asheton para uma participação no CD. Daí terminou ocorrendo uma inesperada volta dos Stooges. Para o baixo, em substituição a Dave Alexander, morto em 1974, convocaram Mike Watt (ex-Porno for Pyros). Até Steven Mackaye foi trazido de volta para soprar seu sax nessa reunião.
 















Foto clássica da primeira formação dos Stooges 

A banda voltou a excursionar e chegou a tocar no Brasil. Aos sessenta anos, Iggy Pop mostrou que não deve nada a nenhum garotão, pulando que nem um louco pelo palco, como fazia nos tempos áureos dos Stooges. No ano passado, depois de 35 anos sem gravar um disco, os Ashetons e Iggy lançaram o CDWeirdness.  

Resta saber se o grupo ainda possui alguma cartada extra, como uma nova turnê ou quem sabe outro disco. Vitalidade e moral para isso Iggy e os irmãos Asheton têm de sobra como grandes criadores da música punk.
















Ouça :






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